Há
algumas semanas recebi um e-mail do Rev. Osni Ferreira, missionário
Presbiteriano, informando sobre a situação do pastor Youcef Nadarkhani,
preso no Irã e condenado à morte por abandonar o islamismo e se
converter à fé cristã. Desde então, tenho levado informações referentes
ao pastor Youcef à igreja e convocado os irmãos a orar em favor daquele
pastor. No Brasil inteiro, várias igrejas se mobilizaram em oração, e
ao redor do mundo, houve uma grande pressão em favor da libertação do
pastor e da suspensão da pena de morte.
Na
última semana, um novo e-mail que recebi do Rev. Osni informava a
respeito da suspensão da pena de execução. A reação não poderia ser
outra a não ser de alívio e gratidão a Deus pelo livramento concedido ao
seu servo.
Ficou
claro pelas informações repassadas a respeito do caso do pastor Youcef
que ele não abriria mão da sua fé em hipótese alguma. O risco de ser
executado não foi suficiente para fazê-lo abandonar a sua crença em
Cristo. Sua firmeza e coragem serviram de exemplo a crentes do mundo
inteiro, trazendo à memória as lembranças de outros grandes servos de
Deus que não se intimidaram com ameaças e mantiveram firmes a esperança
da vida eterna. Alguns desses servos acabaram mortos, e entraram para a
galeria dos mártires e seu sangue, como afirmou Tertuliano, se tornou
“a semente de novos cristãos”.
No
entanto, há algo mais a ser considerado a respeito da situação do
pastor Youcef Nadarkhani. A comoção de muitos crentes brasileiros,
infelizmente, não significará nada daqui a alguns meses. Quando a poeira
baixar, quando os noticiários e informações pela internet diminuírem, e
o nome Youcef Nadarkhani desaparecer da chamada “memória declarativa”
dos nossos crentes, pouca diferença terá feito toda a comoção hodierna
em torno do fato.
A
grande verdade é que é muito fácil ficarmos comovidos com a
perseguição de crentes que estão distantes de nós, sofrendo torturas ou
ameaças de morte em países muçulmanos ou comunistas. É fácil
incentivar vigílias de oração, promover passeatas e outras mobilizações
virtuais, e até mesmo elogiar a fé de quem está a milhares de
quilômetros padecendo por ser crente. Difícil é entender que a situação
de homens como Youcef Nadarkhani não é extraordinária no contexto
cristão. Na verdade é o padrão, a regra, não a exceção para os que se
declaram verdadeiros servos de Cristo e querem viver de maneira
relevante a sua fé.
O
apóstolo Paulo afirmou: “Ora, todos quantos querem viver piedosamente
em Cristo Jesus, serão perseguidos” (2 Tm 3. 12). Estaria o apóstolo se
referindo apenas à sua época ou especificamente a contextos de
perseguição oficial ao cristianismo? Ou seria este um princípio
universal e atemporal?
É
preciso entender que Paulo não se refere apenas às perseguições
armadas e ameaças evidentes de morte. O apóstolo tem em mente todo tipo
de desafio imposto àqueles que desejam viver piedosamente. Estes, nas
palavras de William Hendriksen, são os que “fizeram uma resolução
séria, com a ajuda e a graça de Deus, de viver uma vida de devoção a
Cristo. Eles vivem em íntima comunhão com ele”. Hendriksen ainda diz
que “a experiência de Paulo não é, de nenhum modo, peculiar. As
cicatrizes são o preço que todo crente paga por sua lealdade a Cristo.
Estas são também suas credenciais diante de Deus”. Portanto, ser
perseguido por causa da fé em Cristo é a regra, não a exceção para os
verdadeiros crentes.
As
perseguições contra a fé cristã podem ser de diversas naturezas. No
caso do pastor Youcef é de natureza governamental e religiosa. Mas há
ainda as perseguições ideológicas, culturais, morais e tantas outras que
qualquer crente piedoso pode sofrer em qualquer lugar do mundo,
inclusive no Brasil, que é considerado um país livre. João Calvino diz
que “Satanás possui mais de um método de perseguir os servos de Cristo.
Mas é absolutamente necessário que todos eles suportem a hostilidade do
mundo, de um modo ou de outro, a fim de que sua fé se exercite e sua
constância se comprove. Satanás, que é o perpétuo inimigo de Cristo,
jamais deixará que alguém viva sua vida sem algum distúrbio, e haverá
sempre pessoas perversas a espinhar nossas ilhargas. De fato, tão pronto
um crente mostre sinais de zelo por Deus, a ira de todos os ímpios se
acende e, mesmo que não tenham suas espadas desembainhadas, arrojam seu
veneno, ou criticando, ou caluniando, ou provocando distúrbio de um ou
de outro modo”.
Elogiar
a firmeza do pastor Youcef Nadarkhani é muito fácil. Orar por ele
também é. Mas precisamos ir além dessa comoção momentânea e compreender
os desafios que temos como crentes em nosso país, em nossas cidades, em
nossos próprios contextos. É preciso entender que a mesma fidelidade
demonstrada pelo pastor Youcef diante dos tribunais iranianos se espera
de nós, crentes brasileiros, diante das pressões da cultura pecaminosa
em que vivemos, diante das pressões do pluralismo religioso, do
liberalismo teológico, do relativismo cultural, da tolerância à
imoralidade, do convite à corrupção, entre outras ameaças tão graves
quanto as sofridas pelo pastor iraniano. É urgente que entendamos o que
Paulo disse a Timóteo, que todos que quiserem viver piedosamente em
Cristo, seja onde e quando for, estarão sujeitos a sofrer perseguições.
“Ainda que não sofram os mesmos ataques e não se envolvam nas mesmas
batalhas, eles têm uma só guerra em comum e jamais viverão totalmente em
paz isentos de perseguição”, diz Calvino.
A
perseguição da fé de homens como Youcef Nadarkhani pode ser um bom
refresco para crentes displicentes e despreocupados com a qualidade do
seu compromisso com Cristo. Mas será um poderoso combustível aos que
desejam levar a sua experiência com Deus a sério, e um incentivo a se
tornarem ainda mais fervorosos. Afinal, se a perseguição é “um
ingrediente inescapável da vocação cristã”, como afirmou o comentarista
bíblico John Kelly, nenhum verdadeiro crente deveria se considerar
isento de sofrê-la, a qualquer momento e em qualquer lugar.
Por: Agnaldo Silva Mariano
Por: Agnaldo Silva Mariano
Com informações do: Creio e confesso
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